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sexta-feira, 16 de abril de 2010

As Exigências Éticas do Atendimento Fraterno

Uma das razões para a grande frequência às casas umbandistas é a confiança que as pessoas depositam em serem atendidas diretamente por um espírito “incorporado” e a possibilidade de conversarem com a entidade frente a frente, falar de seus problemas, ouvir conselhos, enfim exercitar esse salutar intercâmbio com o plano espiritual.
Esse que é um dos aspectos mais positivos e mais atrativos da pratica umbandista é também – principalmente por esse motivo – um dos fatores que deve inspirar maiores cuidados por parte dos médiuns e dos dirigentes de casas.
O fato é que quando se olha para uma assistência lotada, a primeira constatação que se deve ter é a de que muito poucos estão ali por pura devoção, por curiosidade, ou para simplesmente passar o tempo. O que leva as pessoas a um terreiro são problemas. Problemas das mais variadas naturezas; que vão desde preocupações corriqueiras, até graves enfermidades. No campo das enfermidades incluem-se as do corpo e as da alma e, entre as da alma encontram-se principalmente aquelas ligadas ao campo afetivo que são as que mais facilmente conduzem as pessoas ao desequilíbrio e ao desespero.
Presentemente a faculdade mediúnica da psicofonia completamente inconsciente está em franca extinção. Esse fato, relacionado com o maior grau de consciência dos habitantes do planeta, coloca em evidência a necessidade de o médium passar por um processo de preparação longo e detalhado, antes de ser colocado em uma corrente mediúnica, em condições de atender os consulentes.
Se antigamente a entidade vibrava sobre o médium, tomando-lhe a consciência e expressando-se livremente através do aparelho fonador, hoje a entidade transmite a mensagem que é captada e processada pelo médium que a repassa, depois de submetê-la ao crivo de sua própria consciência e valores. Não se pode mais, portanto, pensar em uma comunicação pura e direta, já que a influência do aparelho mediúnico é quase inexorável.
Retome-se, então, a questão dos problemas que são levados às entidades pelos consulentes e diga-se que, muitas das vezes, alguns irmãos chegam à casa em um estado de absoluta debilidade emocional; alguns até à beira do suicídio, esperando encontrar na assistência do irmão desencarnado o alento para enfrentar sua dor, sua dificuldade, sua provação. Nesses casos, o que ele vier a ouvir ali poderá representar a diferença entre continuar ou desistir, entre reagir ou entregar-se de vez ao desespero.
Sobressai aí a importância de se trabalhar com médiuns preparados e que, além da firmeza e estabilidade de sua mediunidade, possuam igualmente firmeza e estabilidade emocional que lhes permitam reproduzir com clareza a mensagem do mentor, sem interferir, ou só interferindo com a absoluta certeza de o estar fazendo de forma positiva, complementando e melhorando a mensagem espiritual, se isso for possível.
Para tanto, é necessário primeiramente que se tenha a certeza de que as entidades atuantes na Umbanda jamais exporiam publicamente um irmão que lhes foi pedir ajuda, da mesma maneira que também não tratariam qualquer problema que fosse com indiferença ou menosprezo, julgando-o de menor importância ante outros aparentemente mais graves. Quando algo assim acontece, não é a entidade, mas o médium fazendo valer seu domínio sobre a manifestação.
Outro ponto que também merece destaque é o que diz respeito às receitas que são passadas pelas entidades: muitas vezes Pretos Velhos, Caboclos e até mesmo Exus receitam chás, ou banhos de ervas. É necessário ter em mente que as ervas não são absolutamente inofensivas, pois também possuem princípios ativos, muitos dos quais, se não utilizados de maneira correta, podem ser mais prejudiciais que benéficos. Nesse sentido, o médium deve procurar manter um conhecimento aprofundado sobre as ervas normalmente utilizadas em Umbanda e, a despeito desse conhecimento, abster-se de prescrever, deixando sempre tal tarefa para a entidade que verdadeiramente sabe o que está fazendo.
Imprescindível saber também que quem busca ajuda na Umbanda, ao contar seus problemas para a entidade, está empenhando confiança que deve ser retribuída com honestidade. O médium consciente deve procurar esquecer o que ouve e nunca relatar problemas alheios a quem quer que seja: médium não é repórter. O mesmo vale para os cambonos que, por força de seu trabalho, acabam ouvindo grande parte das conversas, mesmo que não o desejem, pois tem que estar por perto para atender as entidades. Cambono também não é repórter.
Outro ponto que não pode ser esquecido é que a mediunidade não faz de ninguém juiz de seus irmãos. Não cabe ao médium julgar o comportamento dos consulentes. Atender e fazer a caridade, independente de quem seja, lembrando que o conselho vem sempre da entidade e ao médium cabe retransmiti-lo em sua essência, sem alterar conteúdos significativos, pois os espíritos enxergam as questões de forma bem mais aprofundada e podem perceber matizes que o aparelho não tem capacidade de captar. A única exceção a essa regra é o caso de haver uma orientação nitidamente discrepante com os princípios da Umbanda e com os ditames legais, caso em que o medianeiro deverá desconfiar de que um obsessor esteja se fazendo passar por guia.
Necessário se faz, portanto, que se caminhe para procedimentos essencialmente éticos no atendimento fraterno, procurando sempre fazer pelo irmão que procura auxílio, o mesmo que se desejaria que fosse feito no seu próprio caso, até porque a dinâmica da vida pode determinar que a qualquer momento, qualquer um necessite de ajuda.

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