Algum tempo atrás, navegando pela Internet, encontrei uma página ligada a uma igreja evangélica que fazia uma série de ataques ao Espiritismo, em todas as suas manifestações. Lendo alguns artigos, percebi que eles dedicavam especial atenção em atacar a doutrina da reencarnação. Não é por acaso: esse é um dos principais pilares das religiões de matriz espiritualista. Na mesma página havia um questionário tomado emprestado de uma organização católica, intitulado “20 Perguntas aos Reencarnacionistas”. Percebendo a inconsistência das perguntas, resolvi respondê-las, uma a uma. Como percebo que, em alguns momentos, nós, espíritas umbandistas, nos esquecemos um pouco desse fundamento, decidi publicar as perguntas e as respostas, até como forma de fomentar a reflexão sobre esse fundamento tão importante de nossa religião. Como o texto ficaria muito grande para ser publicado em um único artigo, irei dividi-lo em dez partes, com duas perguntas de cada vez.
TERCEIRA PERGUNTA
Se a reencarnação fosse verdadeira, com o passar dos séculos haveria necessariamente uma diminuição dos seres humanos, pois que, à medida que se aperfeiçoassem, deixariam de se reencarnar. No limite, a humanidade estaria caminhando para a extinção. Ora, tal não acontece. Pelo contrário, a humanidade está crescendo em número. Logo, não existe a reencarnação.
R- Mais um equívoco conceitual: onde se situa a condição de humano, na matéria ou no espírito? Nós, espíritas, temos claro que essa condição é atributo espiritual e que, por isso mesmo, a humanidade jamais se extinguirá, dada a imortalidade do espírito.
Para completar, a pergunta traz uma demonstração de total, completa e absoluta ignorância da doutrina da reencarnação em seus matizes mais delicados e profundos: Onde está dito que aqueles que alcançam algum grau de evolução deixam de habitar a terra? Não é essa a lógica da Doutrina Espírita. Na verdade, o orbe terrestre em toda a extensão de seus domínios, comporta dimensões diferenciadas de vida e evolução. O Planeta está em franco processo de mudança de grau evolutivo, com o fim de continuar servindo de morada a todos aqueles que conseguirem atingir um determinado nível de evolução moral, compatível com a nova classificação da Terra na ordem dos mundos do Universo.
Em seus primórdios, a terra foi habitada por alguns bilhões de espíritos recém-criados por Deus e que começaram juntamente com o Planeta a sua escalada evolutiva. Nessa escalada, fomos auxiliados por espíritos degredados de um mundo já bem mais evoluído, que, em geral, traziam consigo grandes conquistas intelectuais, mas pouca evolução moral. Tais exilados, ao chegarem à Terra, aqui encontraram os terráqueos primitivos e a eles se agregaram, dando um impulso inicial de desenvolvimento, fato registrado pela Ciência Histórica como o advento das grandes civilizações.
Nesse processo simbiótico de crescimento, os exilados auxiliaram no progresso do orbe e de seus habitantes, mas conquistaram também, em sua maioria, as qualidades morais de que necessitavam, quando de sua expulsão de seu mundo primitivo. Muitos retornaram ao orbe de origem e outros, afeiçoados à nova morada aqui permaneceram, contribuindo como missionários na escalada crescente da Terra rumo a uma nova etapa evolutiva.
Assim é que o destino dos espíritos que alcançam um grau mais elevado de evolução intelectual e moral não é um paraíso imaginário e contemplativo, mas a própria Terra, saneada, evoluída e elevada em mais um grau na escala dos mundos. Mais feliz, sem dúvida, mas ainda distante da condição de mundo perfeito.
Aqui deverão ficar os espíritos que se libertaram das paixões primitivas e que já se encontram em condições de galgar uma nova etapa de aprendizado na seara divina. Tal é o sentido das palavras de Jesus quando diz: “Bem aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra”.
QUARTA PERGUNTA.
Respondem os espíritas que Deus estaria criando continuamente novos espíritos. Mas então, esse Deus criaria sempre novos espíritos em pecado, que precisariam sempre se reencarnar. Jamais cria ele espíritos perfeitos?
R- Vale responder com outra pergunta: como, afinal ele cria os espíritos? Alguns perfeitos e outros imperfeitos? Todos imperfeitos? Ou todos perfeitos?
Avaliemos cada uma das respostas, à luz de crenças dos próprios não reencarnacionistas, a fim de demonstrar a insustentável incoerência de suas teses: se Deus criasse alguns perfeitos e outros imperfeitos, seria parcial e injusto, sendo ele mesmo imperfeito e, nesse caso, incapaz de produzir algo perfeito, visto que ninguém pode dar o que não tem.
Se, por outro lado, criasse a todos imperfeitos, sendo essa imperfeição inerente á própria natureza do espírito, seria imutável e não haveria esperança para a humanidade, sem contar que não se poderia sustentar a tese de que somos criados à imagem e semelhança de Deus.
Por fim, a última e mais absurda hipótese, a de serem todos criados perfeitos. Nesse caso, teríamos de admitir que estamos vivendo em um paraíso, que não há problemas no mundo e que todos são bons e justos, o que é absurdo por si só, bastando dar uma rápida olhada para o mundo em que vivemos.
Resta, então a lógica: se todos forem criados igualmente simples e ignorantes, tendo a perfeição como meta e não como atributo imanente, dando-se a todos as mesmas oportunidades de crescimento, e igual liberdade de escolha, a perfeição se torna uma conquista, produto do esforço individual e da perseverança nos valores positivos.
Essa verdade, que pode ser perfeitamente entendida da alegoria de Jesus na parábola dos talentos, é tão simples quanto bela, mas ainda esbarra nos interesses escusos daqueles que insistem em fazer da religião um instrumento de dominação, pretendendo-se porta-vozes de um Deus tirânico, a fim de poderem exercer por sua vez uma parcela dessa tirania.
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