DÉCIMA TERCEIRA PERGUNTA
Se a reencarnação fosse verdadeira, o homem seria salvador de si mesmo, porque ele mesmo pagaria suficientemente suas faltas por meio de reencarnações sucessivas. Se fosse assim, Cristo não seria o Redentor do homem. O sacrifício do Calvário seria nulo e sem sentido. Cada um salvar-se-ia por si mesmo. O homem seria o redentor de si mesmo. Essa é uma tese fundamental da Gnose.
R- Curioso perceber como pensam os ortodoxos. Para eles o Jesus redentor é aquele que jaz inerte e ensangüentado na cruz. Pelo seu raciocínio, Jesus nada precisaria ter dito, bastaria que fosse crucificado para que seu sangue resgatasse toda a humanidade.
Para nós reencarnacionistas, o redentor é o Jesus vivo. A redenção está em suas palavras e não em seu desencarne. Jesus não disse ide e levai uma cruz a todos os povos; mas “ide e pregai o evangelho a todos os povos”.
É de se imaginar que se Jesus tivesse vivido até os noventa anos e morrido de causas naturais, provavelmente tudo o que disse e fez teria se perdido no labirinto do tempo e da História, porque os herdeiros da tradição judaica precisam de holocaustos sangrentos a embasar seus dogmas.
Aliás, a imagem do cordeiro imolado nada mais é que isso: dogma. Pior ainda, dogma de origem espúria, já que se inspira nas práticas pagãs de se sacrificarem vítimas inocentes a fim de aplacar a ira dos deuses. Jesus seria a oferenda sagrada, cujo sangue puro derramado teria o condão de aplacar para sempre a ira de um deus brutal, que, se não for adulado, condena ao inferno, semeia maldições e castiga várias gerações.
Isso é primitivo, é grosseiro, é pagão e, para os tempos atuais, é ridículo.
Jesus teve uma vida impoluta, pregou com palavras e com exemplos, fazendo-se paradigma para uma humanidade que precisava evoluir. Ele mesmo declarou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.”, entretanto, mais de dois mil anos se passaram e ainda hoje se lhe valoriza mais a morte.
O homem redime sim a si próprio, quando consegue se amoldar ao exemplo de Jesus, quando assimila a extensão completa de seus ensinamentos e sente ecoar na consciência sua voz altiva e perene, cultuando um Jesus vivo em espírito, sem precisar de pensar em sangue derramado e em um cadáver inerte.
Repousa aí também uma das principais diferenças entre Não reencarnacionistas e reencarnacionistas: Jesus. Uns cultuam sua cruz, outros cultuam sua luz.
DÉCIMA QUARTA PERGUNTA
Em conseqüência, a Missa e todos os Sacramentos não teriam valor nenhum e seriam inúteis ou dispensáveis. O que é outro absurdo herético.
R- O espírito é energia inteligente; o pensamento que dele emana é onda que varre o espaço e o conecta a outras fontes de vibração de igual natureza.
Nessa linha, a fé é vibração poderosa que pode conectá-lo diretamente ao criador. A prece sincera e fervorosa é, portanto, o mais eficiente canal a estabelecer ligação entre o homem e Deus, sem necessidade de intermediários, de templos, de fórmulas ou de quaisquer aparatos materiais.
Parte considerável de nossa pobre humanidade, contudo, ainda precisa de rituais primitivos para conseguir projetar seu sentimento de fé. Essa necessidade atávica acompanha o homem desde as cavernas e vem ao longo dos séculos sendo estimulada por pessoas e instituições que dela se servem para preservar um status de dominação e manipulação de consciências.
É certo que Deus, infinitamente misericordioso, compreendendo esse problema, não deixa ao desamparo seus filhos , fazendo valer o ritual, não por sua força mágica enquanto ritual, mas pela fé e pelo merecimento daqueles que dele participam.
Assim é que um batismo tem um valor intrínseco: o desejo sincero de renovação daquele que a ele se submete, o resto é água e sal, presta-se, quando muito, a fazer salmouras. Um casamento tem um valor absoluto: o amor sincero e desinteressado dos nubentes, o desejo salutar de receber de Deus a incumbência de ajudar a guiar os destinos de outros espíritos no seio da família; o resto são vestidos, anéis, glamour e palavras vazias. Mera satisfação prestada à sociedade.
Considerando isso, a rigor, nenhum problema haveria com os rituais, não fosse pelo fato de que na grande maioria deles a forma substitui o conteúdo, convertendo-os em encenação. Casamentos transformaram-se em verdadeiros sets de filmagem, onde o brilho das luzes e a pompa da cerimônia são muito mais importantes que o amor e, via de conseqüência, o que Deus não uniu, as varas de família separam todos os dias, cada vez mais.
Missas e cultos, por sua vez, funcionam como jograis mal ensaiados, animados com música, onde a maioria das pessoas comparece para cumprir a obrigação de louvar e entrar em comunhão, engolindo uma hóstia ou um pedaço de pão com suco de uva. É a repetição mecânica de um gesto profundamente simbólico de Jesus que, ao distribuir entre os apóstolos o pão e o vinho e pedir que fizessem aquilo para celebrá-lo, estava tentando ensinar a necessidade de partilhar, de ser fraterno e caridoso. Guardou-se o ritual e expurgou-se o sentido profundo.
Quantos há por aí, entoando cânticos de louvor com o coração cheio de ódio, quantos há por aí com uma hóstia na boca e a mente entupida de avareza e soberba. Que sacramentos são esses?
O verdadeiro louvor deve ser artigo do dia-a-dia. Louvar é lembrar-se de Deus com gratidão nos momentos de alegria é agradecer pela oportunidade de crescimento nos momentos de dor. Estar em comunhão é trazer o coração e a mente constantemente abertos para o semelhante. Um sorriso sincero, um abraço fraterno, uma mão que auxilia, valem por todas as hóstias que já foram e que ainda serão produzidas. Um conselho amigo, um gesto gentil, uma lágrima que se ajuda a enxugar renovam mais a criatura que a água de todos os rios e oceanos do planeta. Uma vida compartilhada com harmonia, respeito e sinceridade de sentimentos tem mais valor que qualquer cerimônia de casamento já realizada em qualquer época da humanidade. O desejo sincero de ser útil a si mesmo e ao mundo é que desperta em cada um as potencialidades dadas por Deus. Nenhuma unção ou fórmula sacramental jamais substituirá no momento extremo uma consciência tranqüila e a certeza do dever cumprido.
Por isso, a única verdadeira heresia é substituir por rituais o verdadeiro sentido dos ensinamentos de Jesus. Em que momento determinou ele que se celebrassem missas ou cultos? Em que momento prescreveu ele qualquer fórmula sacramental exceto aquela que todos conhecem e a maior parte insiste em não praticar: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
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