
Algum tempo atrás, navegando pela Internet, encontrei uma página ligada a uma igreja evangélica que fazia uma série de ataques ao Espiritismo, em todas as suas manifestações. Lendo alguns artigos, percebi que eles dedicavam especial atenção em atacar a doutrina da reencarnação. Não é por acaso: esse é um dos principais pilares das religiões de matriz espiritualista. Na mesma página havia um questionário tomado emprestado de uma organização católica, intitulado “20 Perguntas aos Reencarnacionistas”. Percebendo a inconsistência das perguntas, resolvi respondê-las, uma a uma. Como percebo que, em alguns momentos, nós, espíritas umbandistas, nos esquecemos um pouco desse fundamento, decidi publicar as perguntas e as respostas, até como forma de fomentar a reflexão sobre esse fundamento tão importante de nossa religião. Como o texto ficaria muito grande para ser publicado em um único artigo, irei dividi-lo em dez partes, com duas perguntas de cada vez.
QUINTA PERGUNTA
Se a reencarnação dos espíritos é um castigo para eles, o ter corpo seria um mal para o espírito humano. Ora, ter corpo é necessário para o homem, cuja alma só pode conhecer através do uso dos sentidos. Haveria então uma contradição na natureza humana, o que é um absurdo, porque Deus tudo fez com bondade e ordem.
R- Volta-se ao conceito de crime e castigo. Mais uma vez se insiste: a reencarnação não é um castigo para ninguém. É uma oportunidade de aprendizado e reparação a que a maior parte dos espíritos se agarra com absoluto entusiasmo.
A pergunta, contudo, traz consigo uma questão interessante, que demonstra mais uma vez a inconsistência dos conceitos dos não reencarnacionistas, quando afirma que a alma só pode conhecer através do uso dos sentidos.
Sem dúvida, a alma, enquanto espírito encarnado, serve-se dos sentidos do corpo para apreender o mundo físico a seu redor e, a partir dessa experiência sensível, produzir noções abstratas que, depois de sistematizadas, se transformam em conhecimento.
Não decorre daí, contudo, que o espírito, enquanto espírito puro, necessite dos sentidos do corpo para aprender, pois seria admitir que o espírito não possui autonomamente sentidos, o que é absurdo, se não ridículo, na medida em que a relação é exatamente inversa. Explica-se:
O espírito – energia inteligente, expressão máxima da criação divina – possui em seu estado natural, todos os sentidos que possui quando encarnado e mais alguns que ainda não nos é possível compreender racionalmente. Mais que isso, no espírito desencarnado, todos os sentidos são absolutamente potencializados, o que lhes assegura uma maior capacidade de apreensão do mundo. Pode-se dizer, portanto, que, quando encarnado, os sentidos do corpo físico funcionam como uma janela através da qual o espírito percebe o mundo.
Dessarte, deduz-se que o ter corpo é necessário para o homem, mas por motivos bem diversos daqueles apontados na pergunta. Assim como os fluidos transitam do meio mais denso para o menos denso, o espírito transita da matéria densa para a energia pura. Ter corpo, nesse contexto, é necessário e desejável para o espírito que, em sua escalada evolutiva, tem que se submeter aos diversos estágios, sem saltos. Não existe na terra um único PhD que não tenha estado um dia nos bancos do jardim de infância.
SEXTA PERGUNTA
Se a reencarnação fosse verdadeira, o nascer seria um mal, pois significaria cair num estado de punição, e todo nascimento deveria causar-nos tristeza Morrer, pelo contrário, significaria uma libertação, e deveria causar-nos alegria. Ora, todo nascimento de uma criança é causa de alegria, enquanto a morte causa-nos tristeza. Logo, a reencarnação não é verdadeira.
R- Mais uma vez a noção reducionista de crime e castigo, dessa vez ilustrada por uma generalização do sentimento médio das sociedades em relação a fatos naturais. Conduzindo a um raciocínio enganador e malicioso.
Novamente vamos bater na mesma tecla: reencarnação não é punição.
Cabe também perguntar, desde quando os sentimentos de alegria e de tristeza são índices de verdade ou falsidade de alguma coisa?
Por esse mesmo raciocínio, poderíamos construir outro silogismo igualmente ridículo e despropositado: a opulência só nos traz alegria, enquanto a miséria causa-nos tristeza, logo, se alguém é rico e infeliz, esse alguém não existe.
Por fim, é de se realçar que há grande quantidade de filhos indesejados, cujo nascimento causa tristeza e não alegria. Pelo mesmo raciocínio, esses filhos não são verdadeiros.
Da mesma forma, há casos de agonias prolongadas em que a chegada da morte, causa a todos uma sensação de bem estar. Seria de se admitir, nesse caso que a morte é uma mentira.
Encarnar e desencarnar são fatos naturais que pela falsa significação de princípio e fim que adquiriram, notadamente nas sociedades ocidentais, produzem sentimentos de júbilo ou de angústia.
Nós reencarnacionistas vemos a encarnação como um segmento de reta, nada mais que dois pontos demarcados no infinito, onde o que importa é o percurso, único que está em nosso alcance transformar, já que os marcos estão condicionados á vontade de Deus.
Nesse ponto, vale ressaltar, inclusive, que, se, como já foi afirmado anteriormente em outra pergunta “Deus tudo fez com bondade e ordem” e, se bondade e ordem só podem gerar alegria, sendo o desencarne uma determinação divina, deve igualmente causar alegria, por ser expressão de sua bondade e de sua ordem.
0 comentários:
Postar um comentário